Infância na rua
Tenho a ideia que, na altura dos meus pais, a infância das meninas era passada a ajudar nos afazeres de casa e os meninos cedo iam para as terras ajudar os pais ou começavam a trabalhar muito antes dos 18 anos. No meu tempo, passava-se imenso tempo a brincar na rua com os amigos e usavam-se muito os jogos tradicionais. Hoje em dia, as brincadeiras das crianças estão muito diferentes.
Nos anos 80 e 90, era comum, principalmente durante as férias de Verão, ver as ruas cheias de crianças a brincar às apanhadas, ao berlinde, a saltar ao elástico, a jogar à bola ou a andar de bicicleta. Lembro-me tão bem de ficar até altas horas da noite a conversar com as minhas amigas no passeio junto a minha casa.
Vivíamos no centro da cidade, numa zona com cafés e esplanadas e naquelas noites de verão todas as crianças e adolescentes se juntavam, depois do jantar, naqueles passeios. Comiam-se gelados para refrescar, contavam-se histórias e anedotas, uns cantavam e dançavam, outros brincavam às escondidas.
Os pais muitas vezes estavam na esplanada a beber um café. Mas nunca se sentiu aquele medo que talvez, hoje em dia, seja a razão pela qual as ruas estão vazias. É verdade que, nos dias que correm, existem mais carros, e muitos mais perigos da nova sociedade. Naquela altura, não se ouvia falar em pedofilia ou em raptos de crianças. Parecia que as crianças eram seres intocáveis.
São vários os jogos tradicionais que fazem parte da nossa identidade como portugueses. Cabra cega, corrida de sacos, jogo da macaca, jogo da malha, berlinde, pião, jogo do eixo e jogo do lenço são alguns dos que joguei na minha infância. Neste site podemos encontrar a sua definição: http://jogostradicionais.net/
Atualmente, a realidade é muito diferente. Há os computadores e a internet. As crianças usam telemóveis. Os jogos tradicionais foram trocados por consolas e tablets. Os pais preferem ter os seus filhos seguros em casa. E as crianças vivem uma vida cada vez mais isolada e sedentária.
Adorava que os meus filhos tivessem uma infância como a minha. Mas, é impossivel regressar no tempo e parar o desenvolvimento das novas tecnologias. Contudo, a Alice gosta muito de brincadeiras ao ar livre. No quintal dos avós fantasia as mais variadas brincadeiras. No outro dia, fui dar com ela e o irmão a jogar à macaca. Pintaram com giz o chão do quintal e lá estavam saltando e brincando.
O meu desejo é que a infância dos meus filhos passe muito, muito devagar. E que seja passada com muitos momentos de brincadeiras ao ar livre, nem que isso implique voltarem para casa todos sujos de terra ou molhados de água.