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O Meu País das Maravilhas

Partilhas de uma mãe que adora escrever e mostrar o lado bom da vida!

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Receitas com gosto açoreano

A pedido de várias pessoas no blog, e não só, venho iniciar hoje uma rubrica de receitas açoreanas. O Arquipélago dos Açores é muito rico em gastronomia, com várias influências, e muito diversificado de ilha para ilha. Em São Miguel, por exemplo, é conhecido o típico Cozido das Furnas, os bolos lêvedos, a massa sovada, o arroz de lapas, os torresmos de molho de fígado, os chicharros recheados, o bife regional, o queijo branco com pimenta da terra, as sopas do Espírito Santo e as malassadas. Estes são apenas alguns dos pratos e doces que já conheci desde a primeira vez que visitei os Açores. Algumas das receitas que vos vou apresentar foram confeccionadas pela minha sogra, com um condimento muito especial, o amor com que cozinha para todos.

 

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Começo por vos falar do Cozido das Furnas, que mais do que um simples cozido à portuguesa, envolve uma preparação única e tem outro sabor se saboreado entre as árvores da Lagoa do Vale das Furnas, concelho da Povoação. Nas primeiras férias que vim a São Miguel, a família do meu marido fez questão de preparar um cozido. Assisti impávida a toda a preparação, na noite anterior, numa panela de grandes dimensões. Depois de cortar todas as carnes e legumes, a minha sogra começou a colocar por uma ordem lógica cada ingrediente. Os que levam mais tempo a cozinhar no fundo da panela e os que cozem mais rápido em cima. Os enchidos são embrulhados em papel de alumínio, para que deste modo não se desfaçam e não se misturem com as restantes carnes do cozido. A panela é, depois, enrolada numa toalha para que o calor se mantenha e amarrada com um cordel (esta tarefa fica sempre a cargo do meu sogro). O mais espantoso é que o cozido leva apenas sal grosso e nada de água. No dia seguinte, alguém tem que madrugar para ir colocar a panela nas caldeiras vulcânicas.

 

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Em dia de cozido, toda a família e amigos se reúnem e o ritual começa por uma visita aos banhos térmicos na Poça da Dona Beija (um local indiscritível que um dia vos dou a conhecer no blog). Depois de relaxar em águas férreas de 40 graus, segue-se um passeio pela vila, com visita às caldeiras. Qual não foi a minha admiração quando vi pela primeira vez cozer ovos em poucos minutos, apenas colocando uma pequena panela por baixo de água corrente a ferver que saia diretamente das caldeiras. Tudo ao natural e com outro sabor. Uma pitada de sal no ovo, acompanhando com bolo lêvedo e kima ou laranjada, e tudo tem outro sabor. Há uma certa altura do ano que também se podem encontrar à venda maçarocas de milho, que são cozidas dentro de sacas nas caldeiras. O cheiro das caldeiras faz uma certa impressão da primeira vez que o sentimos, mas é apenas o vapor do enxofre e, por isso, um cheiro da natureza.

 

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Como o cozido tem de ficar cerca de 6 horas na caldeira a cozer, dá tempo para conhecer mais um pouco da ilha e dar um pulo até à praia da Ribeira Quente, atravessando tuneis e vislumbrando cascatas pelo caminho. Pode-se aproveitar também para conhecer a Povoação e provar as «fofas», um bolo típico da região. No centro da vila, existe um Parque Zoológico, local interessante para os mais pequenos.

 

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De regresso às Furnas, preparamos uma ou duas mesas que se encontram na margem da Lagoa, e vamos assistir ao levantar da panela. O recinto que antigamente era gratuito, hoje em dia com a chegada de cada vez mais turistas tornou-se pago. Quem ficou a perder, com certeza, foram os funcionários que antes ganhavam mais alguma gorjeta para tirar o cozido.

 

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Com um sabor único e inesquecível, o Cozido das Furnas é diferente por ser cozinhado a vapor em caldeiras vulcânicas, mas o sabor torna-se ainda mais especial se preparado pela minha sogra. Quem já o provou jamais esqueceu. Além das carnes, de porco, vaca e galinha, dos enchicos (morcelas e chouriços caseiros), este prato típico açoreano leva ainda repolho branco, batata branca, batata-doce, inhame, cenoura e couve verde.

 

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O Cozido é, depois, retirado da panela com algum cuidado, separando-se as carnes e legumes em travessas. Acompanhamos com pão de milho, pão caseiro e, para quem gosta, um copinho de vinho. De barriga cheia, sabe tão bem dar um passeio na margem da Lagoa, e até caminhar até à ermida de Nossa Senhora das Vitórias. Com ar abandonado esta ermida situa-se na margem sul da Lagoa das Furnas e foi construída com o objectivo de sepultar o casal José do Canto e Maria Guilhermina do Canto. É um raro exemplo do estilo neogótico existente em Portugal e com caraterísticas únicas para a região. Perto encontra-se também a Mata-Jardim José do Canto, que contém umas vastíssima variedade de fauna e flora.

 

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O Parque Terra Nostra é outro dos locais que não podemos deixar de visitar nas Furnas. Situado no centro da vila é um dos mais vastos e antigos jardins dos Açores. Neste parque, podemos encontrarflora endémica dos Açores, mas também inúmeras plantas nativas de países com climas completamente distintos. O parque tem também um tanque de água térmica onde nos podemos banhar (mas não convém fazê-lo durante a digestão do cozido, pois a água férrea é muito pesada para o estômago). Outro dos locais de visita desta zona é a Reserva Natural do Pico da Vara, que integra o ponto mais alto da ilha de São Miguel, tendo uma área de 7,86 km quadrados.

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 Concluindo, quem visitar esta ilha não pode deixar de provar o cozido à portuguesa com gosto açoreano. Se possível, preparado em casa e saboreado na margem da Lagoa das Furnas. Senão também existem vários restaurantes com o Cozido das Furnas na sua ementa.

Vou deixar aqui a receita dos bolos lêvedos, que são também uma receita da zona das Furnas.

Receita de Bolo Lêvedo:

  • 1 kg de farinha de trigo
  • 300 g de açúcar
  • 4 ovos
  • 1/2 l de leite
  • 1 colher de chá de sal
  • 1 colher de sopa de fermento de padeiro
  • 3 colheres de sopa de margarina

Aqueça um pouco o leite, junto com o sal e a margarina. Amasse a farinha, os ovos, o açúcar e adicione o preparado do leite. Amasse bem e adicione o fermento. Deixe levedar durante aproximadamente 7 horas (durante a noite por exemplo). Separe a massa em bolas, de tamanho aproximado de uma laranja, e coloque num tabuleiro polvilhado com farinha. Tape com um pano e  deixe levedar por mais 45 minutos (aproximadamente). Estenda as bolinhas, uma de cada vez, em forma de disco. Leve a cozer em lume brando, numa sertã de barro polvilhada com farinha e previamente aquecida (ou numa frigideira anti aderente). Coza de ambos os lados. O bolo Lêvedo, têm nome de bolo mas pode ser considerado um pão doce.

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