Loulé, Batalha de Flores
Na minha terra, Loulé temos o Carnaval civilizado mais antigo do país, com mais de cem anos. O 1º Carnaval de Loulé remonta a 1906. Aconteceu na Praça da República. Esta é uma das poucas fotografias existentes dessa altura, e já ai existiam os carros ornamentados com flores de papel, daí o nome Batalha das Flores.
As flores de papel talvez tenham tido inspiração nas amendoeiras em flor que por esta altura do inverno enchem o Algarve de um manto branco.
As tradições dos mais jovens são outras. Nos três dias de corso carnavalesco, a Avenida principal da cidade fica pintada de várias cores, porque são permitidas verdadeiras batalhas de ovos, farinha, tinta e espuma de barbear. Foto do meu amigo fotógrafo Luis da Cruz:
Tenho belas recordações dos dias da minha adolescência que chegava a casa com mais de 20 ovos nos cabelos, a cara pintada das mais variadas cores e a roupa molhada de água. Outras memórias não são tão boas como quando tinha que fazer uma verdadeira gincana para fugir aos rapazes "marafados" que no caminho para a escola, naqueles dias, nos queriam atirar com ovos, alguns podres... quantas vezes tive que voltar a casa para tomar banho e mudar de roupa porque tinha sido "apanhada". Mas são dessas recordações que são feitas também as memórias da nossa juventude louletana.
O Carnaval de Loulé é chamado de Batalha das Flores porque os carros alegóricos são todos enfeitados de flores coloridas feitas de papel, um trabalho manual que começa meses antes do corso carnavalesco acontecer.
Na edição deste ano de 2018, o Carnaval de Loulé tem como mote “Summit de Loulé”, numa paródia àquilo que foi a Web Summit, a cimeira de tecnologia e empreendedorismo em Lisboa, 14 carros alegóricos desfilam para levar ao público o que de melhor este corso centenário tem para oferecer, ou seja, uma sátira acutilante aos principais acontecimentos nacionais e internacionais dos últimos meses, nomeadamente nos quadrantes político, social e desportivo, mas também a beleza e qualidade artística dos carros.
A Avenida José da Costa Mealha enche-se de milhares de louletanos e visitantes, muitos turistas, por estes dias para dançarem ao som dos grupos de samba e entrarem na «folia louetana». Não obstante as suas raízes bem portuguesas e algarvias, o Carnaval de Loulé é contagiado também pelo ritmo frenético do Brasil e, mais uma vez, as escolas de samba trazem o calor que se vive do outro lado do Atlântico nestes dias. Para os muitos turistas estrangeiros que acorrem ao mais antigo Carnaval do país, as esculturais bailarinas com samba no pé são, de resto, um dos principais motivos para uma fotografia ao desfile.
Outras tradições que fazem parte da minha juventude são as saídas noturnas, onde todos se mascaram. Há a famosa noite em que os rapazes se fantasiam de mulheres. Sim em Loulé também há uma noite de «Matrafonas». Existe um grupo de «bailarinas» já com uma tradição de muitos anos, um grupo de amigos que nessa noite vestem os collants, maiôs e tutus e alegram a noite louletana.
Há também a Noite do pijama, em que toda a gente sai para a rua com as mais diversas fatiotas de dormir. Sem esquecer, a noite dos Anos 80, onde o Bar Bafo de Baco é paragem obrigatória, e onde há anos a banda «La Plante Mutante» toca ao vivo, grande parte músicas conhecidas dos anos 80.